sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

A sério que não consigo entender…

Fui educada na certeza de que, como cidadã, é meu dever ser participativa, interventiva e assertiva, bem como ter sempre em mente as pessoas (enquanto indivíduos, muito mais do que meros grupos sociais) e o seu bem-estar; tive uma educação socialista mas com o espaço intelectual para poder analisar todas as referências e tomar opções conscientes; foi uma educação democrática e carregada de respeito por todos os quadrantes políticos, sem maus-da-fita, aprendendo que existem pontos de vista diferentes, a maior parte derivados do ponto exacto onde estamos. Não me alongo porque acabaria por ter que citar Hobbes, Locke, Rosseau e até Platão, entre tantos outros. Temos direito à propriedade privada e que esse seja o ponto de partida!

Aprendi a celebrar Abril, mas aprendi a respeitar certos pormenores que o Estado Novo também trouxe e que a década de 80 deveria ter limado e continuado mas não: à boa maneira portuguesa demolimos tudo e começamos de novo – a alma lusa é muito edificante! Mas não é disto que quero falar, esse é outro tópico tão vasto quanto o problema do deficit!

Cresci a acreditar no sistema democrático, na pluralidade e nas opiniões. Concordo com diversas premissas comunistas e outras tantas neoliberais, mas isso não faz de mim uma pessoa sem referências, apenas dialogante e ingénua q.b. para acreditar que o entendimento entre todas as partes é possível. Infelizmente em Portugal isso não é possível. Somos um país sem viabilidade económica e política, infelizmente incapaz para resolver os problemas em tempo real! Há que olhar para a galinha do vizinho, sempre com olhar guloso, e fazer de tudo para termos uma galinha como aquela, insistindo em engordar o frango tísico que nos calhou, a gastar tempo, dinheiro e energias em soluções impossíveis de obter frutos. Somos um país mesquinho e o problema não é dos políticos: é geral! Surpreende-me surpreender-me (é mesmo para ser redundante!) que as pessoas se indignem tanto com a classe política: se os mudássemos a todos nada iria mudar: os ministros continuariam a ter carros topo de gama, um staff incalculáveis, dariam milhões aos amigos mais próximos e fariam a vida negra aos inimigos do lado. Quem nunca se roeu de inveja com certos pormenores que, vendo bem, até são alheios à nossa existência, que atire a primeira pedra!

Querem vida fácil? Querem que os ricos paguem aos pobres? Querem justiça na divisão da riqueza? Querem saúde gratuita, subsídios de férias, Natal e quem sabe até de Carnaval bem gordos? Paz, pão, saúde, educação? Claro, quem não quer? Mas continuamos a fugir aos impostos, a declarar o mínimo indispensável, a fazer uns biscates sem recibos, a viver de rendimentos mínimos garantidos, a contestar os políticos nas esquinas do costume. Não nos olhamos ao espelho porque até poderíamos dar de caras com o Sócrates, com o Louçã, o Portas ou até (imagine-se!) MFL! Que susto! Por isso vamos em debanda a Fátima e apelamos aos santinhos que nos protejam, voltamos para casa e toca de enfardar o frango tísico com mais uns grãos de milho sempre, na vã esperança, de que recaia um manto de nevoeiro e o D. Sebastião se digne a aparecer e a resolver isto de uma vez por todas!

Hoje estou injuriada por sermos um país à beira da falência, mas não me preocupa a economia, preocupa-me a falência moral e ética do povo português. A este ritmo espero que não nos surpreenda que a União Europeia assuma os controlos da situação de uma vez por todas e, que sabe, esse seja o derradeiro acto sebástico!

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