quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Tabu Reloaded

Finalmente arrancou a campanha para as presidenciais! E para aqueles que esperavam um jogo de espiões altamente tecnológico e com efeitos especiais... bom... frustrem-se! Temos um jogo de chinquilho ao som do Quim Barreiros!

Mas voltando à seriedade, se é que isso é possível: continuamos com o tabu. O que o PR ontem falou ao país pouco ou nada acrescentou para o esclarecimento dos portugueses, pelo contrário: baralhou.

Do que li no discurso do Presidente da República tenho, ponto por ponto, algumas coisas a dizer:

1. Se só os Chefes da Casa Civil e Militar é que podem falar em nome do presidente porque é que não sanou a questão logo a nascença?

2. As circunstâncias já tinham exigido a sua interpretação anteriormente. Os portugueses têm o direito de saber, de facto, o que se passa em tempo real, não um mês depois.

3. Um declaração ambígua, a de 28 de Agosto, que em nada esclareceu as pessoas, só acicatou a comunicação social e todo o debate político eleitoral, completamente desviado de questões bem mais importantes.

4. E se assim foi foram bem sucedidos, os que quiseram envolver o Presidente nas eleições, mas o mesmo foi cúmplice da situação e não está minimamente isento de culpas! Para além disso tem dúvidas?! Dúvidas têm os cidadãos preocupados com questões reais, como pagarem as suas contas ao fim do mês! As instituições servem para garantir estabilidade e nas quais possamos confiar, sem dúvidas e incertezas!

5. Continuam as dúvidas…

6. Ética jornalística à parte essa teria sido a oportunidade de ouro para esclarecer a questão de forma lúcida e coerente!

7. Se ninguém, para além dos Chefes da Casa Civil e Militar, o poderia fazer, deveria ter tido uma atitude explícita sobre o assunto. Se tudo não passou de uma mentira em que surgiu o nome do seu assessor, porque não o manteve nas antigas funções?

8. Só hoje?! E como é que não tinha essa percepção de que não existem sistemas informáticos infalíveis?! Estamos no séc. XXI, Sr. Presidente!

9. Ok. Partilhamos consigo a dúvida. Afinal o Sr. Presidente sabe o mesmo que nós: nada! Neste tempo todo não teve tempo para esclarecer dúvidas e para nos esclarecer a nós!

Este comunicado ao país é, na verdade, o desabafo de Cavaco Silva, não uma tomada de posição presidencial. O que mais senti depois de tudo o que ouvi e li é o factor instabilidade. Mantém-se dúvidas, permanece a nuvem da incerteza do que realmente aconteceu! Mas tudo isto não passa de um "fait divers", a informação e contra-informação de assessores políticos que têm precisamente essa função, o que não se entende é o silêncio e, por fim, menos se entende a explicação. O que era uma unha encravada corre o risco de se tornar gangrena...

sábado, 26 de setembro de 2009

Revisão dos trinta

Dizem-me que é a revisão dos trinta, mas a verdade é que os olhos me andam a enganar, em grave conluio com outras maleitas que não matam, mas moem, devagarinho, num roçar de pedra com pedra. No médico alertam-me para as dioptrias recém detectadas da miopia, que assim se junta ao astigmatismo. Nada de próteses que é para não ganhar um olho mandrião, tome lá é a receita para ir à farmácia. Nunca esperei ter de pagar por lágrimas, muito menos artificiais. Já não bastam as que se engolem para agora andar de pingo emprestado na carteira. Desperdício, este, o da vida adulta, em que como crocodilos, desta feita sérios e sensatos, desperdiçamos as originalmente tragadas para as embaladas, clinicamente testadas e socialmente aceites.

Falta-me lágrima, dá-me um minuto que tenho que gotejar para o olho cansado e estéril. Assim já te olham nos olhos, sabendo a artificialidade do momento. Fosse ela, a lágrima H2O + NACL do nosso ADN, e mudaria de vestes o momento e já não te olhariam nos olhos. Porque é vergonha chorar ou porque nos envergonha ver chorar e não agir, ou porque isso te lembra a durabilidade humana e o grotesco dos sentimentos.

Desta feita há que ver o copo meio cheio: tenho aval médico e farmacêutico para as lágrimas, reptilianas ou nem por isso. Nem por isso… nem sempre por isso ou aquilo. Porque é humano, bastar-nos-á. Nesse alento posso provar que a seca do meu olhar se esboroa em lágrimas híbridas nos dias correntes em que flutua a memória da ausência e da orfandade. Há um ano desaguámos os nossos últimos olhares entre o silêncio ensurdecedor de máquinas friamente presentes. Fiz-me de razão, que conseguia emprestar a quem quer que me abordasse, maquinalmente aguentei as horas que se seguiram, em nome da racionalidade, a mesma que hoje me rouba a condição humana.

Dizem-me que é a revisão dos trinta. Não é dor nem saudade o que se sente: são os ajustes dos parafusos e dos cilindros, tão somente. Imensa carapaça metálica que blinda o que de mais belo podemos ter na vida: os sentimentos. Não há que temer... é a vida.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

?!?!?!?!?!?!

É com espanto que hoje leio esta notícia: Associação das PMEs recomenda voto contra PS. Para além de uma ingerência grave, creio que os pressupostos apontados são vergonhosos. As PME's pagam mais impostos? Pagam. O Fisco apertou o cerco? Apertou. São factos, mas são necessidades! Depois do descontrolo que existiu no que se refere a contabilidades bem feitas e a impostos que não eram pagos alguma coisa tinha que ser feita. E foi bem feita.

Mas quando trazem à baila as insolvências não posso deixar de me irritar! Para alguns empresários esta crise deu jeito, aproveitaram para fechar as empresas que estavam carregadas de dívidas ao Estado e fornecedores para, logo de seguida, abrirem outras. Falo com conhecimento de causa e sabendo que certas pessoas se passeiam livremente por aí enquanto algumas outras empresas realmente lutam por ter tudo certo e por pagar as contas que estes outros não pagaram. Há empresários que preferem não ter grandes carros, grandes ordenados, mas ter a sua empresa à tona e esperar o dia em que se poderão dar a esse "luxo".

Na minha área de negócios faliu uma empresa. Dois meses antes de entrar com o processo de insolvência fez encomendas de mais de 300.000€ a fornecedores. Não pagou, mas faliu. O material desapareceu, mas em 15 dias os mesmos senhores tinham uma outra empresa com exactamente os mesmos produtos para vender. Estranho, não é? Para além de ser uma concorrência altamente desleal, os fornecedores, para se blindarem deste tipo de atitudes, alteram as condições comerciais, dificultando a vida aos clientes que tentam sobreviver à crise. Nós continuamos e pagamos o impostos, negociamos como podemos e vamos andando falando de injustiça.

Talvez esta Associação deva promover workshops de ética, talvez assim conseguissemos uma economia mais competitiva!

sábado, 19 de setembro de 2009

Outra vez MMG

Acabei de receber este e-mail e achei-o pertinente:

A Minha Leitura (José Niza) sobre MANUELA MOURA GUEDES

Fui director de programas da RTP e depois seu administrador. E garanto-vos que, se alguma vez algum apresentador ou jornalista desse uma entrevista a chamar-me "estúpido", a primeira coisa que aconteceria seria o cancelamento imediato do seu programa, independentemente de haver ou não eleições em curso.

Por isso me parece incompreensível que, embora rios de tinta já se tenham escrito sobre o cancelamento do jornal nacional que Manuela Moura Guedes (MMG) apresentava na TVI, todos os analistas e comentadores tenham ignorado a explosiva e provocatória entrevista que MMG deu ao Diário de Notícias dias antes de a administração da TVI lhe ter acabado com o programa.

Em meu entender essa entrevista, realizada com antecedência para ser publicada no dia do regresso de MMG com o seu jornal nacional, foi a gota de água que precipitou a decisão da TVI. É que, o seu conteúdo, de tão explosivo e provocatório que era, começou a ser divulgado dias antes. E se chegou ao meu conhecimento, mais cedo terá chegado à administração da TVI.

Nessa entrevista MMG chama "estúpidos" aos seus superiores. Aliás, as palavras "estúpidos" e "estupidez" aparecem várias vezes sempre que MMG se refere à administração.

É um documento que merece ser analisado, não somente do ângulo jornalístico, mas sobretudo do ponto de vista comportamental. É uma entrevista de uma pessoa claramente perturbada, convicta de que é a maior ("Eu sou a Manuela Moura Guedes"!) e que se sente perseguida por toda a gente. (Em psiquiatria esse tipo de fenómenos são conhecidos por "ideias delirantes", de grandeza ou de perseguição).

MMG diz-se perseguida pela administração da TVI; afirma que os accionistas da PRISA são "ignorantes"; considera-se "um alvo a abater"; acusa José Alberto de Carvalho, José Rodrigues dos Santos e Judite de Sousa de fazerem "fretes ao governo" e de serem "cobardes"; acusa o Sindicato dos Jornalistas de pessoas que "nunca fizeram a ponta de um corno na vida"; diz que o programa da RTP 2, Clube de Jornalistas, é uma "porcaria"; provoca a ERC (Entidade Reguladora da Comunicação Social); arrasa Miguel Sousa Tavares e Pacheco Pereira, etc.

E quando o entrevistador lhe pergunta se um pivô de telejornal não deve ser "imparcial", "equidistante", "ponderado", ela responde: "Então metam lá uma boneca insuflável"!

Como é que a uma pessoa que assim "pensa" e assim se comporta, pode ser dado tempo de antena em qualquer televisão minimamente responsável?

Ao contrário do que alguns pretendem fazer crer - e como sublinhou Mário Soares - esta questão não tem nada a ver com liberdade de imprensa ou com a falta dela. Trata-se, simplesmente, de um acto e de uma imperativa decisão administrativa, e de bom senso democrático.

Como é que alguém, ou algum programa, a coberto da liberdade de imprensa, pode impunemente acusar, sem provas, pessoas inocentes? É que a liberdade de imprensa não é um valor absoluto, tem os seus limites, implica também responsabilidades. E quando se pisa esse risco, está tudo caldeirado. Há, no entanto, uma coisa que falta: uma explicação totalmente clara e convincente por parte da administração da TVI, que ainda não foi dada.

Vale também a pena considerar os posicionamentos político-partidários de MMG e do seu marido.

J. E. Moniz tem, desde Mário Soares, um ódio visceral ao PS. Sei do que falo. MMG foi deputada do CDS na AR.Até aqui, nada de especialmente especial.

O que já não está bem - e é criminoso - é que ambos se sirvam de um telejornal para impunemente acusarem pessoas inocentes, sem quaisquer provas, instilando insinuações e induzindo suspeições.

Ainda mais reles é o miserável aproveitamento partidário que, a começar no PSD e em M. F. Leite, e a acabar em Louçã e no BE, está a ser feito. Estes líderes políticos, tal como Paulo Portas e Jerónimo de Sousa, sabem muito bem, que nem Sócrates nem o governo tiveram qualquer influência no caso TVI. Eles sabem isto. Mas Salazar dizia: "O que parece, é"!

E eles aprenderam.

- 1984. Eu era, então, administrador da RTP. Um dia a minha secretária disse-me que uma das apresentadoras tinha urgência em falar comigo: - "Venho pedir-lhe se me deixa ir para a informação, quero ser jornalista"! Perguntei-lhe se tinha algum curso de jornalismo. Não tinha. Perguntei-lhe se, ao menos, tinha alguma experiência jornalística, num jornal, numa rádio... Não tinha. "O que eu quero é ser jornalista"! Percebi que estava perante uma pessoa tão determinada quanto ignorante. E disse-lhe: "Vá falar com o director de informação; se ele a aceitar, eu passo-lhe a guia de marcha e deixo-a ir". A magricelas conseguiu. Dias depois, na primeira entrevista que fez - no caso, ao presidente do Sporting, João Rocha - a peixeirada foi tão grande que ficou de castigo e sem microfone uma data de tempo.

P.S.

A jovem apresentadora chamava-se Manuela Moura Guedes e se eu soubesse o que sei hoje...

Ribatejo - Portugal

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

O tecnocrata

Foi reeleito Durão Barroso ou, europeiamente falando, José Manuel Barroso com uma maioria absoluta e sem oposição, aliás, com a conivência dos partidos à esquerda do hemiciclo europeu. Estranhei esta ausência de debate, certamente amplamente abafada pela política caseira, mas que, como cidadã europeia, me sinto na necessidade de deslindar o que se passa lá para os lados de Bruxelas. Afinal toca-me na pele.

Para ser honesta não vou à bola com o Durão Barroso. A forma como governou Portugal e a forma "ligeirinha" como fez as malas para ir embora não denotam o melhor exemplo de um patriota, daí não entender o "apadrinhamento" do PS em Portugal a esta recandidatura. Não se vota em alguém só por ser português, deixando de lado as premissas mais importantes como a capacidade de liderar, as estratégias, a conduta política e, acima de tudo, o passado. Para não falar de que do lado do PSD esses "patriotismos" são peanuts, pois em 99 foram os primeiros a não validar a candidatura de Mário Soares. Se a direita não esquece o passado, porque insiste a esquerda democrática em esquecê-lo?

Não esquecerei os sorrisos e os apertos de mão que validaram a invasão do Iraque e a forma como a Europa foi atrelada ao belicismo e autoritarismo americanos. Para além disso, em cinco anos, ficou muito por fazer nesta Europa que, de dia para dia, se atrasa em se assumir como potência económica e, acima de tudo, social. Venham mais cinco anos de tecnocracia! Afinal é disto que o povo gosta!

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

11/09

Há 8 anos os aviões que embateram no WTC conseguiram a proeza de nos entrar casa adentro. Lembro-me que estava a almoçar com uma amiga na hora exacta em que os noticiários de todo o mundo começaram a emitir a CNN em directo, com as imagens do 1º avião já desfeito e em chamas. Logo a seguir veio o 2º, como se não bastasse ainda houve o 3º a falhar o Pentágono. Parecia algo "hollywoodesco", ao ponto de nos primeiros 10 segundos, ao vermos as imagens, pensarmos que era mesmo uma "preview" qualquer. Ao fim desses 10 segundos o silêncio impôs-se no restaurante de uma forma absolutamente esmagadora. Em 30 segundos o barulho dos telemóveis a tocar era insuportável.

O Ocidente tinha sido atacado numa escala nunca antes imaginada na vida real. Creio que ninguém tenha conseguido sentir-se seguro durante algum tempo. Mudou o mundo e a forma como o víamos. Os graves problemas do mundo árabe deixaram de estar "lá longe" e finalmente sentimos as consequências directas da Guerra Fria que já parecia mais um capítulo encerrado da História.



Depois disso tivémos sustos e tivémos também Madrid, mesmo aqui ao lado, e mais sustos. As guerras no Afeganistão e a do Iraque. A corrida ao nuclear retomada. Conflitos, mais conflitos... e sempre o ódio.

O mundo mudou há 8 anos, mas não para melhor. Continua a morrer-se e, ao poucos, retorna a nossa indiferença, uma espécie de calo que vai aumentado e que vai relegando estes problemas para o fim da tabela dos problemas. A História repete-se, ciclicamente, e deveríamos aprender com ela. Mas não: repetem-se erros, afinam-se discursos tantas vezes semelhantes a outros do passado e oscila-se cada vez mais entre extremos.

Agora veio a crise económica e social. Virá a política. Esta História é em tudo semelhante àquela que nos deixou nas mãos 40 milhões de mortos. Os paralelismos são tantos que arrepiam. Uma teoria que espero que morra assim, mas é uma teoria que tem uma possível validação se não se fizer nada.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Acordo ou Aborto?

Algures em 2008 escrevi isto:

Ora bem, a temática que por aí anda em voga (retirando-se do mapa os camionistas e o Euro) será, nos círculos mais intelectuais, esta nova reforma do Acordo Ortográfico nos PALOP's. Esta reforma, que há mais de 15 anos é falada, pelos vistos está a ganhar contornos cada vez maiores de andar para a frente.
Querem a minha honesta opinião? É um pau de dois bicos!
É necessária a reciclagem da palavra escrita de quando em vez, se não ainda estaríamos a debater como se escreveria "pharmácia", porque a linguagem oral tem uma preponderância imperativa sobre a escrita. A linguagem escrita tem e deve adaptar-se à fonética oral (forma como a palavra é gerada em som) e ser simplificada. Desde que o Tempo é Tempo que a oralidade é a nossa maior expressão e é por essa via que as culturas mais têm evoluído, inclusive somando novos sons para novas realidades.
Neste blog, Em defesa da Língua Portuguesa, poderão encontrar grandes vultos da Linguística portuguesa a debater este mesmo tema, de forma muitas vezes mais teória e intricada, mas bem pertinente. Vale a pena ler pelo carácter científico.
Se não quero pensar que vamos moldar a nossa língua a questões comerciais com o Brasil (maior facilidade de sermos invadidos pelo mercado editorial brasileiro), também convém ressalvar uma questão pertinente que até agora ainda não vi ninguém focar... qual é o português mais puro? O de Portugal ou o do Brasil? Huuummmm... pergunta difícil!
As nossas "barreiras" linguísticas com o Brasil não são, de todo, as ortográficas, nem as gramaticais, são mesmo as orais, os significados múltiplos para uma mesma palavra. E isso, meus caros, vai sempre acontecer porque, querendo ou não, são culturas e povos diferentes. Falo do Brasil porque é o "gigante" de que toda a gente fala. Afinal são 160 contra 10 milhões!
Mas, voltando, e por muito que nos custe a admitir, o português brasileiro é bem mais genuíno do que o nosso português europeu. O uso do gerúndio, por exemplo, é um exemplo típico das marcas que ficaram do português renascentista e, inclusive, do liberal. O português brasileiro mantem-se, na sua génese, mais puro do que o nosso que, por razões políticas como as invasões francesas e outras, obrigaram o português europeu a "afrancesar-se" e, no início do séc. XX a "inglesar-se". O Português, como toda a gente sabe, deriva do Latim e, para exemplo, enquanto nós dizemos "autocarro" os brasileiros dizem "ônibus". A palavra "autocarro" é uma invenção nossa, mas "ônibus" manteve-se fiel ao latim, sendo uma versão melhorada da expressão "omnibus" que se traduz em "para todos". E assim é: um autocarro é para todos, que outra designação lhe dariam os romanos? Na prática a língua de Camões estará mais para os brasileiros do que para os portuguesses!
A questão então não passa por abandalharmos a nossa Língua, que nós próprios já a abandalhámos mais ao longo dos séculos do que os brasileiros, passa por termos cuidado em preservar o que é nosso culturalmente. Um "facto" é e será sempre um "facto", ao passo que "fato" é roupa, para um brasileiro "fato" é "facto" e "terno" é "fato", porque é composta por 3 peças. Curiosa a língua, não é?
Ora, mas se perguntarem se concordo com este Acordo, terei que responder que não. Os ingleses não tiveram que chegar a acordo nenhum para que se entendesse entre eles, certo? Mas não, em vez de serem limadas arestas (que têm e devem ser limadas), quer-se chegar a uma hegemonia impossível de obter porque, e repito, cada cultura é uma cultura e isso deve manter-se inalterado.
O que me parece que está a acontecer é que se está a tentar chegar a um ponto em que errar a ortografia seja menos grave do que é. E isso sim, é grave, muito grave, porque que não sabe ler e escrever muito menos sabe falar. A aprendizagem da Língua é tão importante como aprender a andar, porque só o conhecimento desta é que nos permite compreender tudo o resto.
Enfim... o Português é uma língua única no mundo pela diversidade que contém. É a língua mais difícil de aprender pela grande diversidade fonética, dado que utilizamos todas as potencialidades do nosso espectro vocal para comunicarmos, ao contrário das outras línguas, daí ser muito fácil para nós aprendermos línguas estrangeiras: dominamos qualquer tipo de sons e temos maior capacidade de reproduzir o que ouvimos, pois não estamos a fazer nada de novo. Já gramaticalmente são mais as excepções à regra do que quase as regras! Temos uma Língua extremamente rica e, ao mesmo tempo, duramente complexa para os estudiosos. Porque é que o plural de "mão" é "mãos" e o de "pão" é "pães"?! Esta é uma questão que ainda hoje deve afectar um colega meu de escola primária que não conseguia entender as excepções. Olhem, esta é uma palavra que deve ser reciclada, quem é que ainda lê aquele "p" manhoso?!
Que se preserve este património primeiramente pelo respeito que lhe devemos diariamente, os Acordos terão sempre que existir, devemos é resistir quando sentirmos que a nossa unicidade cultural está a ser colocada em risco (e até agora ainda não assisti a provas evidentes disso), apesar de se estar a chegar ao ponto em que o nível começa a descer ameaçadoramente...

sábado, 5 de setembro de 2009

Credibilidade e Insenção

Serão dois adjectivos muito queridos ao 4º poder: os media. Reza o código dos jornalistas que por estes e outros valores se regulem na sua actividade profissional sendo, até certo ponto, um código tão rígido que limita a liberdade individual consagrada em Constituição. A ideia seria dar-nos a tranquilidade de sabermos que o que lemos, ouvimos e lemos é factual, mas a realidade é que determinados tipos de jornalismo cederam neste limbo e, falando por mim, assisto a determinadas peças que são um circo de interesses. Económicos, sublinhe-se.

A ideia de que os media existem para nos servir enquanto órgãos de comunicação social esfumou-se nas últimas décadas. Grupos económicos viram nesta área um filão para acrescentar dividendos e nem sempre pela via da imparcialidade e do rigor. Existe a fronteira, e ainda bem, de os donos dos jornais, rádios e televisões não gerirem as notícias, para isso existem as direcções de informação que têm liberdade. Rectifico: uma certa liberdade.

Há a pressão de terem de atingir os targets, os shares e os números que lhes permitam ganhar dinheiro. Ainda iremos conhecer os grupos económicos que só injectam capital em nome da informação sem desejarem lucros. É uma faca de dois gumes para os jornalistas que sentem a respiração dos accionistas no pescoço e que querem é ver os números reais ao fim do ano. Veja-se a televisão: prime-time publicitário é em cheio nos intervalos dos noticiários, por isso há que arquitectar formas de prender as pessoas aos mesmos. E, em nome do direito de informação, somos bombardeados pelo consmunismo desenfreado. Mas...: faz parte, a informação não existe sem os grupos económicos, sem a publicidade e sem dinheiro para pagar ordenados.

Falo com o conhecimento de causa de já ter feito jornalismo e de já ter gerido uma redacção, embora numa escala pequena a tentação estava lá: o zé da câmara que tentava saber alinhamentos, o manel da construtora que aparecia para pagar cafés, o quim do talho que dizia que cumpria as regras da ASAE enquanto oferecia uns bifes, etc, etc... É uma questão de escala e de influências.

Agora esta novela da TVI... parece-me publicidade gratuita. Por um lado há uma empresa que toma as suas decisões internas só que, no caso desta, é uma jogada votada ao mediatismo. Depois de sair o Moniz adivinhava-se que este seria o segundo passo. Dizer que o culpado é o Sócrates... Bom... imaginativo e, de certa forma, a TVI ganhou o totoloto da exposição publicitária a 3 semanas das eleições! Teoria da conspiração? Talvez, mas se eu acreditar que a culpa é do Governo só me posso sentir envergonhada por, primeiro, voltarmos aos tempos da censura e, segundo, por ter governantes tão burros que se dão ao luxo de dar tiros nos pés ao vivo e a cores.

Decisões empresariais que aliviam as noites de sexta-feira, na minha opinião, pois credibilidade e insenção nem sempre andavam par-a-par nos noticiários sensacionalistas que se viam, era mais um desfile triste de insultos desnecessários e desregrados.