domingo, 7 de março de 2010

Preciso de um país são!

As notícias entram-nos sentidos adentro, onde quer que estejamos, quem quer que sejamos. Recebo notícias do meu país e adoeço numa cumplicidade triste, sem perceber rumos, caminhos ou sequer atalhos que ditem para onde vamos, nem mesmo quem nós somos.

Precisamos, desesperadamente, de identidade nacional, de apego à cultura e de uma noção colectiva de patriotismo. Fomos um país de emigrantes, tornámo-nos um país de imigrantes e estamos num meio-termo estranho em que se pensa em sair com a mesma velocidade em que se pensa no futuro. Tivemos a capacidade extraordinária de correr o mundo, direccionados pelo olfacto da ganância, é claro, importa salientar este importante detalhe. Mas a verdade é que os portugueses são fora de portas o que não são dentro. É algo estrutural e que remonta aos idos da independência. É como se corrêssemos sempre para a frente sem estruturar o que temos em mãos… corre-nos a diáspora no sangue, não tenho dúvidas, mas urge introduzir nas veias a sabedoria do crescimento sustentado.

Para onde vamos, velho país? Séculos à espera de messias e ninguém que apresente o discurso certo… disparamos nas direcções possíveis e desperdiçamos energias, sem entender que o planeamento demora tempo mas obtém frutos. Mas a verdade é que ninguém se compromete, ninguém consegue ter a loucura suficiente e obter um pacto de regime que diga, preto no branco, quais as linhas por onde o povo se pode guiar.

Somos um país de serviços, desenganem-se os que acreditam no sector primário e secundário! Se assim é que se cerrem as fileiras e alguém que diga quem seremos daqui a 20 anos. Sejamos um país de charme, bonito e conquistador! Exagerando Portugal poderia ser, em paralelo, o Dubai e o Silicon Valley da Europa, aliando eco-turismo de qualidade e desenvolvimento tecnológico de ponta poderíamos ter, nesta fórmula, a chave para um futuro risonho e garantido.

Mas precisamos, com urgência, de confiança: confiança nas empresas nacionais, nas instituições estatais, no governo, nos tribunais, nas polícias, nos vizinhos da porta do lado. Estamos a perder a vontade de acreditar que se instalou depois do 25 de Abril. Nunca, na História de Portugal, o povo teve uma relação de confiança com o Estado, tivesse sido Monarquia, Liberalismo Constitucional, República, Cooperativismo ou Democracia: o povo sempre se sentiu roubado por trabalhar uma vida inteira e não ter nada em troca, sempre se habituou a esconder os bens para fugir ao dízimo ou ao fisco… É, efectivamente, um problema estrutural em que se tem que pôr fim aos compadrios de décadas.

Há países em que os sistemas políticos, sociais e económicos funcionam e que têm de ser, rapidamente, “case studies” de uma equipa de planeamento, uma equipa multidisciplinar, autónoma e que permita ao Estado entender, em concreto, como é que se chega lá e estabelecer metas. E, claro, precisamos de políticos com coragem suficiente para se desapegarem dos seus cultos ideológicos: precisamos que deixem de ser contra, por serem contra, precisamos que sejam a favor, porque sejam a favor. Precisamos de políticos pensantes, que antes de tudo coloquem em primeiro lugar as pessoas, o país, a Europa e, só no fim da lista, as ideologias que não são revistas há décadas.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Tema...

A cultura é uma das formas de libertação do homem. Por isso, perante a política, a cultura deve sempre ter a possibilidade de funcionar como antipoder. E se é evidente que o Estado deve à cultura o apoio que deve à identidade de um povo, esse apoio deve ser equacionado de forma a defender a autonomia e a liberdade da cultura para que nunca a acção do Estado se transforme em dirigismo.

Sophia de Mello Breyner Andresen, in 'Assembleia Constituinte, Agosto de 1975'