sábado, 25 de julho de 2009

Dos Bichos

Apareceu numa manhã comum. Menos de um palmo de gata miona, aos berros com fome, assustada e minada de pulgas e carraças. Num ápice já estava na veterinária em sessão de banho, corta unhas, desparasitante e inspecção geral. Em nenhum momento arranhou ou mordeu, espatosamente meiga para uma gata bebé com a idade estimada no mês e meio. Passados quase 6 meses passeia-se indolente e discreta, como só os gatos sabem ser.

Mas é uma gata com graves problemas de identidade: hesita entre o miar e o ladrar, dado que as únicas amigas peludas e de quatro patas definitivamente ladram. Corre atrás das cadelas, caça-as, placa-as nas curvas e rebola-se com elas em animada brincadeira. Pede para comer, para beber, tomar banho no lavatório sozinha e exige mimos, saltando pura e simplesmente para o colo, ou para o pescoço, onde se mantém firme como estola ronrante. Pela manhã 5 minutos de atenção têm que lhe ser prestados ou então a alternativa é o miar ir subindo de tom e estarmos sempre a tropeçar nela.

Passeia-se pela loja e dá as suas espreitadelas na rua. Nega-se a fugir e quando se afasta mais do que 10 metros começa a pedir ajuda. No atelier, entre tintas e pincéis, deita-se em cima da mesa e, não raras vezes, a pelagem adquire tonalidades diversas. Há sempre um bigode pintado, ou uma orelha. Parece uma sombra, um cão, segue as pessoas e fica ao pé, responde ao assobio e vem a correr juntamente com os cães.

Definitivamente sou dona de cães, não de gatos, embora os ache extremamente bonitos, mas a estarolice dos cães é-me mais próxima. Tenho uma lista já com dois algarismos de cães abandonados... e a gata. Um gato-cão ou meio cão, nem sei. Mas aqui a escrever vou espreitando-a deitada na cama que tem em cima da minha secretária e sorrio... dorme de barriga para o ar, numa paz que só crianças e bichos conseguem atingir.

Gosto de animais. Talvez por isso tenha a coragem de apanhar cães que deambulam nas auto-estradas ou que estão em bermas cobertos de sangue. Não sou heroína, sou uma pessoa cívica que apanha os "restos" que os outros se limitaram a largar por aí sem qualquer peso na consciência. Neste aspecto somos um país extremamente doente e vil.

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