sábado, 5 de setembro de 2009

Credibilidade e Insenção

Serão dois adjectivos muito queridos ao 4º poder: os media. Reza o código dos jornalistas que por estes e outros valores se regulem na sua actividade profissional sendo, até certo ponto, um código tão rígido que limita a liberdade individual consagrada em Constituição. A ideia seria dar-nos a tranquilidade de sabermos que o que lemos, ouvimos e lemos é factual, mas a realidade é que determinados tipos de jornalismo cederam neste limbo e, falando por mim, assisto a determinadas peças que são um circo de interesses. Económicos, sublinhe-se.

A ideia de que os media existem para nos servir enquanto órgãos de comunicação social esfumou-se nas últimas décadas. Grupos económicos viram nesta área um filão para acrescentar dividendos e nem sempre pela via da imparcialidade e do rigor. Existe a fronteira, e ainda bem, de os donos dos jornais, rádios e televisões não gerirem as notícias, para isso existem as direcções de informação que têm liberdade. Rectifico: uma certa liberdade.

Há a pressão de terem de atingir os targets, os shares e os números que lhes permitam ganhar dinheiro. Ainda iremos conhecer os grupos económicos que só injectam capital em nome da informação sem desejarem lucros. É uma faca de dois gumes para os jornalistas que sentem a respiração dos accionistas no pescoço e que querem é ver os números reais ao fim do ano. Veja-se a televisão: prime-time publicitário é em cheio nos intervalos dos noticiários, por isso há que arquitectar formas de prender as pessoas aos mesmos. E, em nome do direito de informação, somos bombardeados pelo consmunismo desenfreado. Mas...: faz parte, a informação não existe sem os grupos económicos, sem a publicidade e sem dinheiro para pagar ordenados.

Falo com o conhecimento de causa de já ter feito jornalismo e de já ter gerido uma redacção, embora numa escala pequena a tentação estava lá: o zé da câmara que tentava saber alinhamentos, o manel da construtora que aparecia para pagar cafés, o quim do talho que dizia que cumpria as regras da ASAE enquanto oferecia uns bifes, etc, etc... É uma questão de escala e de influências.

Agora esta novela da TVI... parece-me publicidade gratuita. Por um lado há uma empresa que toma as suas decisões internas só que, no caso desta, é uma jogada votada ao mediatismo. Depois de sair o Moniz adivinhava-se que este seria o segundo passo. Dizer que o culpado é o Sócrates... Bom... imaginativo e, de certa forma, a TVI ganhou o totoloto da exposição publicitária a 3 semanas das eleições! Teoria da conspiração? Talvez, mas se eu acreditar que a culpa é do Governo só me posso sentir envergonhada por, primeiro, voltarmos aos tempos da censura e, segundo, por ter governantes tão burros que se dão ao luxo de dar tiros nos pés ao vivo e a cores.

Decisões empresariais que aliviam as noites de sexta-feira, na minha opinião, pois credibilidade e insenção nem sempre andavam par-a-par nos noticiários sensacionalistas que se viam, era mais um desfile triste de insultos desnecessários e desregrados.

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