quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Mecanismo

Paira uma suposta normalidade no correr dos dias, mas sem aviso o coração dispara até se sentir uma dor que entra de fininho por entre o tórax e se instala algures entre a pele e a máquina bombeadora e sente-se um vazio, uma espécie de vertigem mesmo. Sente-se cada gotícula de sangue a percorrer as auto-estradas das veias e o mecanismo a auto-lubrificar-se, a auto-estabilizar-se. Acalma-se e fica um aperto no lado esquerdo e uma espécie de zumbido silencioso a ecoar nas paredes do cérebro, como se este boiasse tranquilamente num lago de sangue. É uma sensação estranha esta de nos sentirmos mal, de tomarmos consciência de que se sente o coração a pulsar numa valsa arrítmica e absurdamente descompassada.



A vida, esta, que consideramos de filme, como se encostássemos a vivência real para vestirmos uma personagem, ganha um contorno de absoluta necessidade. Tanto por fazer versus outras tantas coisas feitas, limbo de glórias e de ressentimentos que se vão acumulando nas vielas escuras do dia-a-dia, aqui dentro escondidas, aqui dentro aplacadas na fortaleza da racionalidade. Somos seres obscuros num carnaval veneziano, figuras emprestadas a um quotidiano transcendente e fútil. Há ainda muito para fazer e os grãos de areia teimam em escorregar rapidamente naquela ampulheta que nos fita, esmagadora.

Tic-tac, tic-tac… life goes on

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