Sou fã de Saramago e já li e reli a sua obra várias vezes, deliciando-me sempre com as brincadeiras de sintaxe e com o fio condutor do narrador, sempre omnipresente. As suas obras primam pela densidade, pelos pormenores que nos transportam para realidades muito para além da história central. É um estilo que se estranha, mas que depois se entranha!
O Ensaio sobre a Lucidez foi o encerrar de um ciclo de Saramago. As Intermitências da Morte já se jogou num outro campeonato, mais abrangente, num tom mais legível. Não desgostei, mas soube-me a pouco. A Viagem do Elefante, aclamado por muitos como a mais magistral obra de Saramago, soube-me a nada. Não é, de todo, o melhor do autor, é uma viagem, uma crónica, um compasso suspenso de um génio. Aceito que digam que é muito bom porque, realmente, é dos livros de Saramago mais legível, feito num registo muito simplificado e que facilmente é acessível ao público em geral.
Agora veio Caim… Depois de tanta polémica pensei “O Evangelho Segundo Jesus Cristo versão 2.0!”. Não o é, de todo. N’O Evangelho tínhamos um Saramago bem mais acutilante, mais atento aos pormenores, mais mordaz, mais racional. Mas, como acontece com as sequelas, a desilusão instalou-se. É uma leitura válida da Bíblia, uma leitura muito pessoal, mas que não está tão bem montada quanto aquilo a que Saramago no habitou, não é de todo arrebatador e nem tão bem elaborado quanto o desejaríamos.
Manterei a minha paixão pelos livros de Saramago, mas principalmente pelos da fase pré-Nobel, ainda sem as pressões dos editores em prol do grande público e das tiragens esgotadas. Tenho pena que o génio ceda à massificação, que é a única justificação que consigo encontrar…
Sem comentários:
Enviar um comentário